ESTRATÉGIAS PARA O CUIDADO HUMANIZADO NA UTI NEONATAL NO PERÍODO DE PANDEMIA DO SARS-COV-2 (COVID-19)

 uma análise de notícias eletrônicas

Patrícia de Sá Figueiredo Capella[1]

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

pcapella98@edu.unirio.br

Juliana Coelho do Sacramento[2]

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

juliana.sacramento@edu.unirio.br

 

Inês Maria Meneses dos Santos[3]

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

ines.m.santos@unirio.br

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Resumo

O objetivo deste estudo é analisar as estratégias utilizadas pelos profissionais da saúde para realização do cuidado humanizado na UTI Neonatal durante a pandemia da COVID-19 veiculadas na mídia eletrônica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória, do tipo documental. Foram analisadas 12 notícias no período de março de 2020 a maio de 2023, disponibilizadas na mídia eletrônica brasileira. Foi realizada a análise temática de onde emergiram 2 categorias: Humanização aplicada ao cenário pandêmico a partir das recomendações da OMS e Manutenção estímulo do vínculo famílias-bebês. As estratégias para o cuidado humanizado incluíram protocolos rigorosos de prevenção de infecção, como testes de COVID-19, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e higienização constante das mãos durante visitas presenciais. Além disso, o uso de tecnologias, com videochamadas e áudios via WhatsApp, permitiu a comunicação remota entre pais e bebês, fortalecendo o vínculo familiar. A análise revelou abordagens diversificadas e criativas dos profissionais de saúde para manter a humanização do cuidado mesmo em contextos adversos. As iniciativas demonstraram a capacidade das equipes de saúde de se adaptarem a circunstâncias adversas, mantendo a qualidade do cuidado e o vínculo afetivo entre pais e bebês. As práticas adotadas durante a pandemia oferecem lições valiosas para o cuidado neonatal futuro, promovendo um ambiente mais humanizado e resiliente.

Palavras-chave: enfermagem neonatal; unidades de terapia intensiva neonatal; humanização da assistência; estratégias de saúde; covid-19; notícias.

STRATEGIES FOR HUMANIZED CARE IN THE NEONATAL ICU DURING THE SARS-COV-2 (COVID-19) PANDEMIC

an analysis of electronic news

Abstract

The objective of this study is to analyze the strategies used by healthcare professionals for providing humanized care in the Neonatal ICU during the COVID-19 pandemic, as reported in electronic media. This is a qualitative, exploratory, documentary study. Twelve news articles from March 2020 to May 2023, available in Brazilian electronic media, were analyzed. Thematic analysis was performed, from which two categories emerged: Humanization applied to the pandemic scenario based on WHO recommendations and Maintenance and stimulation of family-baby bonds. The strategies for humanized care included strict infection prevention protocols, such as COVID-19 testing, use of personal protective equipment (PPE), and constant hand hygiene during in-person visits. Additionally, the use of technologies, such as video calls and WhatsApp audio messages, enabled remote communication between parents and babies, strengthening the family bond. The analysis revealed diversified and creative approaches by healthcare professionals to maintain the humanization of care even in adverse contexts. The initiatives demonstrated the ability of healthcare teams to adapt to adverse circumstances, maintaining the quality of care and the emotional bond between parents and babies. The practices adopted during the pandemic offer valuable lessons for future neonatal care, promoting a more humanized and resilient environment.

Keywords: neonatal nursing; neonatal intensive care units; humanization of care; health strategies; covid-19; news.

ESTRATEGIAS PARA LA ATENCIÓN HUMANIZADA EN LA UCI NEONATAL DURANTE LA PANDEMIA SARS-COV-2 (COVID-19)

 un análisis de noticias electrónicas

Resumen

El objetivo de este estudio es analizar las estrategias utilizadas por los profesionales de la salud para brindar atención humanizada en la UCI Neonatal durante la pandemia de COVID-19 publicadas en medios electrónicos. Se trata de una investigación cualitativa, exploratoria y documental. Se analizaron 12 noticias desde marzo de 2020 hasta mayo de 2023, disponibles en medios electrónicos brasileños. Se realizó un análisis temático del que surgieron 2 categorías: Humanización aplicada al escenario de pandemia a partir de las recomendaciones de la OMS y Mantenimiento del vínculo familia-infantil. Las estrategias para la atención humanizada incluyeron protocolos estrictos de prevención de infecciones, como pruebas de COVID-19, uso de equipo de protección personal (EPP) e higiene constante de las manos durante las visitas en persona. Además, el uso de la tecnología, con llamadas de video y audio vía WhatsApp, permitió la comunicación remota entre padres y bebés, fortaleciendo el vínculo familiar. El análisis reveló enfoques diversos y creativos de los profesionales de la salud para mantener la humanización de la atención incluso en contextos adversos. Las iniciativas demostraron la capacidad de los equipos de salud para adaptarse a circunstancias adversas, manteniendo la calidad de la atención y el vínculo emocional entre padres y bebés. Las prácticas adoptadas durante la pandemia ofrecen lecciones valiosas para la atención neonatal futura, promoviendo un entorno más humanizado y resiliente.

Palabras clave: enfermería neonatal; unidades de cuidados intensivos neonatales; humanización de la asistencia; estrategias de salud; COVID-19; Noticias.

 

 

1  INTRODUÇÃO

O novo coronavírus, nomeado como SARS-CoV-2, produziu a doença denominada COVID-19. Os primeiros casos tiveram início em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan (China) e hoje, em 2023, contam com mais de milhões de mortes em todo o mundo: A pandemia de COVID-19 matou quase 15 milhões de pessoas entre 2020 e 2021, aponta cálculo feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado na revista científica por Msemburi et al., na Nature (2023).

A pandemia da COVID-19 impôs a necessidade de distanciamento social e confinamento em grande parte da população mundial, restringindo significativamente o contato presencial e a troca direta de informações. Nesse contexto, a mídia desempenhou um papel fundamental na disseminação de notícias e orientações em saúde pública. Com as pessoas isoladas em suas residências, os veículos de comunicação, como televisão, rádio e plataformas digitais, assumiram a responsabilidade de fornecer informações atualizadas e confiáveis sobre a evolução da pandemia, as medidas de prevenção, os avanços científicos e as políticas governamentais. A mídia não apenas manteve a sociedade informada sobre as últimas notícias, mas também desempenhou um papel crucial na educação sobre práticas de segurança, agiu como um canal importante para divulgação das rotinas e estratégias utilizadas nos serviços para a continuidade do cuidado e foi fundamental para ajudar a sociedade a lidar com a incerteza, promovendo a solidariedade e a conscientização necessárias para enfrentar a pandemia global.

Conforme preconizado pelas diretrizes do Ministério da Saúde (2017), o adequado desenvolvimento da criança é determinado por um equilíbrio do suporte das necessidades biológicas, ambientais e familiares. Entretanto, a necessidade de internação na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) impõe ao bebê certas privações, incluindo restrições nos contatos físicos prazerosos, como o contato pele-a-pele com a mãe e a amamentação. Os estímulos físicos e as vozes dos pais desempenham um papel crucial na formação do vínculo afetivo, e o sistema sensório-motor é essencial para a organização hierárquica e integrada do bebê (Als et al., 2004). Dessa forma, a maior limitação e impossibilidade de contato materno e familiar com o bebê, que se intensificou pandemia da COVID-19, acarretaram-se em uma redução na exposição a estímulos que proporcionam conforto e organização, diminuindo assim as experiências positivas e fundamentais para o desenvolvimento infantil.

Em função da alta transmissibilidade do vírus, se fez necessária, na época, uma reorganização dos serviços e cuidados em todos os setores da área da saúde com a finalidade de minimizar a possibilidade de contágio entre pacientes, familiares e equipe, dificultando, consequentemente, um cuidado mais humanizado pela equipe de enfermagem também na atenção neonatal (Gonçalves-Ferri; Cavalheiro; Mussi, 2020).

Diante do exposto, propõe-se como questão norteadora: quais as estratégias utilizadas pelos profissionais da saúde para realização do cuidado humanizado na UTI Neonatal durante a pandemia da COVID-19 veiculadas na mídia eletrônica? Assim, apresenta-se como objeto de estudo o cuidado humanizado na UTI Neonatal durante a pandemia da COVID-19 veiculado na mídia eletrônica. O objetivo é analisar as estratégias utilizadas pelos profissionais da saúde para realização do cuidado humanizado na UTI Neonatal durante a pandemia da COVID-19 veiculadas na mídia eletrônica.

A importância da assistência humanizada reflete diretamente no paciente que necessita desses cuidados, mas ainda assim para que essa prestação de serviço ocorra, um ambiente de trabalho que seja acolhedor é essencial aos profissionais (Vieira; Maia, 2013).

Com isso, este estudo tem por justificativa contribuir para a contínua melhoria das práticas de cuidado nesse ambiente desafiador, fornecendo subsídios tanto para a assistência como para o ensino acerca da condução do cuidado humanizado na UTI Neonatal, especialmente diante de uma pandemia por uma doença infectocontagiosa transmitida predominantemente pelas gotículas de saliva, tosses, espirros, contatos próximos, entre outros. Este aspecto ganha relevância significativa ao abordar os protocolos específicos e as estratégias implementadas para preservar a humanização do cuidado, mesmo em contextos desafiadores e complexos.

 

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório, do tipo documental que, conforme expressa Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009, p. 5), “[...] procedimento que se utiliza de métodos e técnicas para a apreensão, compreensão e análise de documentos dos mais variados tipos”. Dessa forma, foram analisadas notícias veiculadas na mídia eletrônica, referentes às estratégias utilizadas pelos profissionais da saúde para realização de um cuidado humanizado na UTI Neonatal durante a pandemia da COVID-19, as quais possuem caráter documental, visto que “Sempre que uma pesquisa se utiliza apenas de fontes documentais (livros, revistas, documentos legais, arquivos em mídia eletrônica), diz-se que a pesquisa possui estratégia documental” (Appolinário, 2009, p.  85).

Como afirmam Lüdke e André (1986, p. 40): “A escolha dos documentos não é aleatória. Há geralmente alguns propósitos, ideias ou hipóteses guiando a sua seleção.” A partir disso, a pesquisa pelas notícias foi realizada por meio do acesso à Internet, no Google e através de uma aba do próprio site, a Google Notícias; e também em sites de revistas, utilizando a combinação entre as palavras-chaves: UTI Neonatal; COVID-19; humanização; assistência humanizada; método canguru.

Foi realizada a busca de notícias sobre o objeto de estudo “cuidado humanizado na UTI Neonatal durante a pandemia da COVID-19 veiculado na mídia eletrônica”, que atendessem aos critérios de inclusão: referir apenas ao Brasil, disponibilizadas de forma gratuita na íntegra, no recorte temporal março de 2020 à maio de 2023, respectivamente as datas dos decretos de início e fim da pandemia pela OMS. Foram encontradas, ao total, 118 notícias. No entanto, após a leitura dos títulos e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão das duplicatas, foram selecionadas 12 notícias.

Para identificação das notícias selecionadas, foi criado o Quadro 1 com as seguintes variáveis: título, fonte da publicação, data da publicação e Hospital/Estado mencionado.

As notícias foram analisadas através da técnica de análise de conteúdo, modalidade temática de Bardin (2011) seguindo as etapas de pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados.

Por tratar-se de investigação com documentos de domínio público, este estudo não se configurou como pesquisa com seres humanos, conforme previsto na Resolução CNS nº. 466/2012.

 

3 RESULTADOS

O corpus de análise desta pesquisa constitui-se em 12 notícias apresentadas pela letra “N” acrescida do algarismo por ordem de apresentação (N1, N2…), que são sintetizadas no Quadro 1, publicadas de 2020 a 2022 sobre estratégias de humanização na UTI Neonatal, destacando diversas iniciativas em hospitais brasileiros durante a pandemia de COVID-19.

 

 

 

 

 

 

 

 

Quadro 1 - Síntese das notícias publicadas de 2020 a 2022 sobre humanização na UTI Neonatal

              Título da notícia

Fonte

Data

Instituição - Estado

N1: Ação de humanização no Regional de Marabá garante que mães assistam seus bebês na UTI NEONATAL por chamada de vídeo

Portal Pró-Saúde

11 de maio de 2020

Hospital Regional do Sudeste do Pará (HRSP) - Pará

N2: As dificuldades das famílias de prematuros diante da pandemia de coronavírus

Revista Crescer - Globo.com

28 de maio de 2020

Não especificado

N3: Hospital Materno-Infantil de Barcarena realiza videochamadas para celebrar o Dia dos Avó

Portal

Rede Pará

27 de julho de 2020

O Hospital Materno-Infantil de Barcarena Dra. Anna Turan - Pará

N4: Grávida com covid-19, Maryane deu à luz inconsciente na UTI: “Demorei 74 dias pra conhecer meu filho”

Revista El País

28 de julho 2020

Hospital Geral Dr. César Cals - Ceará

N5: Humanização é princípio que norteia a maternidade mais tradicional do Ceará

Revista

 Viva Saúde - CE

25 de novembro

de 2020

Hospital Geral Dr. César Cals - Ceará

N6: Bebês internados em UTI ganham ensaio fotográfico natalino em SC

G1 SC - Globo.com

24 de dezembro

de 2020

Hospital Santo Antônio - Santa Catarina

N7: Em meio à pandemia, assistência humanizada dá mais segurança às mães e bebês na uti neonatal

Agência da Boa Notícia

10 de maio de 2021

Hospital São Camilo - Ceará

N8: Bebês prematuros de gestantes com Covid-19 passam por recuperação na UTI Neonatal do Huop

Central de Notícias UNIOESTE

11 de agosto de 2021

 Hospital Universitário do Oeste do Paraná (Huop) - Paraná

N9: Enfermeira cria “hora do colinho” para bebês longe das mães com Covid-19

Notícias COFEN

03 de novembro

de 2021

Maternidade Frei Damião - Paraíba

N10: Covid-19 não precisa afetar uso de método canguru em bebês prematuros, diz OMS

Diário de Curitiba

17 de janeiro de 2022

Não especificado

N11: Bebês ganham ensaio fotográfico de Páscoa no Regional de Marabá

Portal

Rede Pará

16 de abril de 2022

Hospital Regional do Sudeste do Pará - Dr. Geraldo Veloso (HRSP) - Pará

N12: Mães e bebês ganham ensaio fotográfico no Hospital Regional do Baixo Amazonas

Portal

Rede Pará

11 de novembro

de 2022

Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) - Pará

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024)

 Os veículos de comunicação que divulgaram essas notícias incluem emissoras nacionais de grande porte, como a Revista Crescer (Globo.com), G1 e El País, além de portais mais locais, como o Portal Rede Pará, Agência da Boa Notícia, Central de Notícias Unioeste, Revista Viva Saúde - CE, Portal Pró-Saúde e Diário de Curitiba. Notícias específicas de categorias profissionais também foram consideradas, como a publicada pelo Notícias COFEN. A maior parte das notícias são locais e todas foram buscadas diretamente na fonte primária, garantindo a autenticidade e a relevância das informações sobre as práticas de humanização nas UTIs neonatais no contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil.

 Quanto à distribuição geográfica dos hospitais mencionados, constatou-se que quatro estão situados na região Norte, outros quatro na região Nordeste, dois na região Sul, e dois não tiveram sua localização especificada.

Ao realizar a análise temática do conteúdo das notícias eletrônicas relacionadas à UTI Neonatal durante a pandemia da COVID-19, foi construído o Quadro 2, que sintetiza o procedimento analítico do resultado obtido: 24 unidades temáticas, organizadas em 4 agrupamentos e 2 categorias. Os agrupamentos foram identificados como: Recomendações da OMS - Protocolos de cuidado adotados na Pandemia da COVID-19; Humanização - Medidas/Assistência da equipe na manutenção do cuidado humanizado durante a Pandemia da COVID-19”; “Visitas” presenciais/permanência na UTIN - Medidas de proteção das "visitas" presenciais parentais; “Visitas” virtuais - Medidas virtuais que visam reduzir o distanciamento parental. A partir dos agrupamentos emergiram duas categorias: Humanização aplicada ao cenário pandêmico a partir das recomendações da OMS e Manutenção/Estímulo do vínculo famílias-bebês.

 

 

 

Quadro 2 - Síntese do procedimento analítico

Unidades temáticas

N1

N2

N3

N4

N5

N6

N7

N8

N9

N10

N11

N12

Agrupamentos

Categorias

Diretrizes e recomendações da OMS

X

X

 

 

 

 

 

X

 

X

 

 

Recomendações da OMS - Protocolos de cuidado adotados na Pandemia da COVID-19

Categoria 1:

 

Humanização aplicada ao cenário pandêmico a partir das recomendações da OMS.

Prevenção da contaminação pela COVID-19

 

 

X

 

 

X

 

X

 

X

 

 

Suspensão das visitas

 

 

X

X

 

X

X

X

X

 

 

 

Isolamento do bebê por pelo menos 14 dias

 

 

 

 

 

 

 

X

 

 

 

 

Realização de testes de covid (bebê e/ou pais)

 

 

 

 

 

 

 

X

 

 

 

 

Higienização das mãos e Uso de máscaras

 

X

 

 

 

 

 

 

 

X

 

 

Humanização

 

X

 

 

X

 

 

X

X

 

X

X

 

 

 

 

 

Humanização - Medidas/

Assistência da equipe na manutenção  do cuidado humanizado durante a Pandemia da COVID-19

Método Canguru

 

X

 

 

 

 

 

 

 

X

 

 

Cuidado Humanizado

 

 

X

 

X

 

 

 

 

 

 

 

Aleitamento materno

 

 

 

 

X

 

 

 

 

X

 

 

Contato

pele a pele

 

 

 

 

X

 

 

 

 

X

 

 

Atendimento psicológico

para mãe

 

 

 

 

 

 

X

 

 

 

 

 

“Hora do colinho” realizado pela equipe

 

 

 

 

 

 

 

 

X

 

 

 

Presença/

Permanência dos pais 24h

 

X

 

 

 

 

 

 

 

X

 

 

“Visitas” presenciais /permanência na UTIN - Medidas de proteção das "visitas" presenciais

parentais

 

Categoria 2:

 

Manutenção/

Estímulo do vínculo famílias-bebês

Permanência apenas da mãe 24h

X

 

 

 

X

 

 

 

 

 

 

 

Visitas rápidas de 15min com horários marcados

 

X

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ensaio Fotográfico presencial de mãe e bebê seguindo a recomendação da OMS do uso da máscara

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

X

Chamadas de vídeo

X

 

X

 

 

 

X

X

 

 

 

 

 

“Visitas” virtuais - Medidas virtuais que visam reduzir o distanciamento parental

Fotografias e vídeos enviados pela equipe

 

 

 

X

 

 

X

X

 

 

 

 

Áudios da família para o bebê

 

 

 

X

 

 

 

 

 

 

 

 

Ensaio Fotográfico

 

 

 

 

 

X

 

 

 

 

X

 

Recebem boletins médicos diários com peso, medicações, informações diárias

 

X

 

 

 

 

X

 

 

 

 

 

Carta Afetiva entregue para as mães

 

 

 

 

 

 

X

 

 

 

 

 

Homenagens em datas comemorativas, com fotos, mensagens ou vídeos

 

 

 

 

 

 

X

 

 

 

X

 

Colocação de enfeites nos bebês

 

 

 

 

 

X

 

X

 

 

X

X

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024)

Os resultados revelam informações significativas sobre as estratégias e práticas adotadas pelos profissionais de saúde neste cenário específico. No âmbito das diretrizes e recomendações da OMS (N1, N2, N8 e N10) e dos protocolos de cuidado adotados na pandemia, destaca-se a forte ênfase nas orientações. As notícias abordaram diretamente temas como a suspensão de visitas (N3, N4, N6, N7, N8, N9), o isolamento do bebê por pelo menos 14 dias (N8) e a realização de testes de COVID-19 (N8), além da higienização das mãos e uso de máscaras (N2 e N10) refletindo a implementação dessas recomendações para prevenção da contaminação pela COVID-19 (N3, N6, N8, N10).

Quanto à humanização, observou-se uma abordagem ampla, refletida nas notícias N2, N5, N8, N9, N11 e N12, em uma forma mais específica, aparece nas notícias N3 e N5 o cuidado humanizado, em algumas destacando práticas como o Método Canguru (N2 e N10), o estímulo ao aleitamento materno (N5 e N10) e o contato pele a pele (N5 e N10). Além disso, estratégias de apoio emocional, como o atendimento psicológico para as mães e a prática "Hora do colinho", foram mencionadas nas notícias N7 e N9 respectivamente.

As medidas de proteção das visitas presenciais e da permanência dos pais na UTI Neonatal durante a pandemia também foram abordadas. As notícias N1, N2, N5 e N10 trataram da presença/permanência dos pais 24 horas, enquanto as notícias N1 e N5 mencionaram, também, a permanência apenas da mãe 24 horas e as notícias N3 e N4 falaram sobre visitas rápidas de 15 minutos com horários marcados. Além disso, a notícia 12 (N12), aborda um ensaio fotográfico presencial da mãe com o bebê, seguindo a recomendação da OMS do uso de máscaras.

Por fim, as estratégias de “visitas” virtuais emergiram como uma alternativa importante para reduzir o distanciamento entre as famílias e os bebês internados na UTIN. As notícias abordaram o uso de chamadas de vídeo (N1, N3, N7, N8), envio de fotografias e áudios pelos profissionais (N4, N7, N8), a entrega de boletins médicos diários (N2, N7), a entrega de uma carta afetiva feita da equipe para as mães (N7), e a colocação de enfeites nos bebês (N6,N8, N11, N12), às vezes apenas para enviar as fotos diárias, outras vezes para homenagear a família em datas comemorativas com fotos, vídeos e mensagens especiais (N7, N11), ou então para realização de ensaios fotográficos como aparece nas notícias N6 e N11.

 

4 DISCUSSÃO

As notícias encontradas delineiam tanto abordagens para visitas presenciais quanto alternativas remotas em casos em que os pais não podem permanecer fisicamente na UTI Neonatal. Destaca-se a diversidade de medidas implementadas em diferentes contextos hospitalares para promover o envolvimento dos pais no cuidado de seus bebês internados. Como mencionado em uma das notícias "Não temos um protocolo único de medidas para a permanência dos pais de bebês que estão em uma UTI Neonatal em tempos de Covid-19" Revista Crescer (Ruas, 2020), sublinhando a necessidade de abordagens flexíveis e adaptáveis diante das exigências impostas pela pandemia.

A pandemia da COVID-19 trouxe desafios significativos para os profissionais de saúde que atuam na UTI Neonatal. Essa unidade é essencial para o cuidado de recém-nascidos prematuros ou enfermos, e garantir um ambiente humanizado é crucial para o bem-estar dos bebês e suas famílias. Conforme foi apresentado acima, emergiram duas categorias analíticas: a Categoria 1: Humanização aplicada ao cenário pandêmico a partir das recomendações da OMS e a Categoria 2: Manutenção/Estímulo do vínculo famílias-bebês.

 

4.1 Humanização aplicada ao cenário pandêmico a partir das recomendações da OMS

Nesta categoria são destacadas as estratégias implementadas para minimizar a contaminação e garantir a segurança dos recém-nascidos e de suas famílias. Simultaneamente, a aplicação do Método Canguru e outras práticas de humanização buscaram manter o vínculo afetivo e proporcionar cuidados integrados, mesmo com as restrições impostas pela pandemia.

A implementação de rigorosos protocolos de prevenção, seguindo as Diretrizes da OMS, foram essenciais para proteger os recém-nascidos na UTI Neonatal durante a pandemia. O uso correto de equipamentos de proteção individual (EPIs), realização regular de testes de COVID e a higienização frequente das mãos foram seguidos rigorosamente pelos profissionais de saúde e aplicados às visitas nas UTIs onde a mesma era permitida. Essas medidas foram fundamentais para evitar a transmissão do vírus e garantir a segurança dos pacientes mais vulneráveis. A segurança era priorizada sem comprometer a qualidade do cuidado prestado, assegurando um ambiente seguro para todos.

 Além disso, foram implementadas outras estratégias, como a permissão da entrada de pais assintomáticos, após a aferição da temperatura e realização de um questionário sobre o estado geral de saúde. Em algumas UTIs Neonatais as visitas possuíam curtos períodos de tempo, limitando a 15 minutos, enquanto outras adotaram horários pré-determinados para visita de cada bebê. Adicionalmente, outra estratégia notável em uma notícia foi a realização de um ensaio fotográfico com mães e seus bebês para comemorar o Novembro Roxo, mês de conscientização sobre a prematuridade. Esse ensaio teve como objetivo celebrar a vida e a luta dos bebês prematuros, além de fortalecer o vínculo afetivo entre mães e filhos, proporcionando um momento de alegria e conexão emocional durante um período de grande desafio.

A “Hora do Colinho” foi uma estratégia abordada na notícia N9 criada e implementada pela enfermeira Mariluce Ribeiro, para promover o cuidado humanizado a recém-nascidos que estavam separados de suas mães devido à internação por COVID-19. Essa iniciativa, envolvia proporcionar um período diário de colo terapêutico aos bebês, oferecendo-lhes conforto e afeto. A prática não apenas ajudou a mitigar o impacto da separação física, mas também favoreceu o desenvolvimento emocional e neurológico dos neonatos, destacando a importância do toque e da presença física no cuidado neonatal, evidenciando os benefícios dessa estratégia, mostrando, mais uma vez, como o contato humano pode servir como uma intervenção vital para o bem-estar dos recém-nascidos em UTIs Neonatais. Segue o relato da Enfermeira:

Durante o pior momento da pandemia, diz a enfermeira, houve momentos de ter três órfãos ao mesmo tempo na unidade. “Isso me inquietou o coração como profissional e como mãe. Então comecei a dar meu colo para eles, porque a mão que medica também tem o colo que acalenta. E comecei a observar as reações deles”, afirma. A terapia oferece uma série de benefícios para o bebê. “Os benefícios vão desde aumento do tempo de sono, a ganho de peso, melhor absorção da dieta e diminuição do choro. Além disso, a alta é mais rápida”, explica. [...] A terapia do colo é feita hoje todos os dias na maternidade em todos os bebês, com tempo mínimo de 40 minutos. “Não há uma hora específica do dia, nem um tempo determinado. Geralmente a gente faz quando eles estão inquietos ou chorosos e faz até que acalmem. Hoje estamos fazendo colo até para os bebês em ventilação mecânica,” diz. Enfermeira Mariluce Ribeiro (COFEN, 2021).

 

4.2 Manutenção/Estímulo do vínculo famílias-bebês

Esta categoria destaca a importância da manutenção e estímulo do vínculo entre famílias e bebês através de medidas que possibilitaram a presença e participação dos pais, mesmo que de forma adaptada. Essas estratégias, além de demonstrarem o comprometimento das equipes de saúde em proporcionar um cuidado humanizado e centrado na família, foram fundamentais para amenizar os efeitos negativos da separação.

A manutenção do vínculo entre pais e bebês através do uso da tecnologia também foi um aspecto crucial abordado durante a pandemia pois, neste período, as visitas presenciais aos recém-nascidos e a permanência dos pais em diversas UTIs Neonatais foram restritas para evitar a disseminação da COVID-19.  No entanto, a Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), dispõe o seguinte:

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. (Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990, p.19)

Além disso, a Nota Técnica Nº 14/2020 do Ministério da Saúde diz, entre outros aspectos, que:

O contato pele a pele deve ser estimulado e realizado por mães assintomáticas e que não mantenham contato domiciliar com pessoa com síndrome gripal ou infecção respiratória comprovada por SARS-CoV-2;

O aleitamento materno deve ser garantido, visto que os seus benefícios superam os potenciais riscos de transmissão da doença e que não existem evidências de transmissão por essa via. (Ministério da Saúde,2020, p.2).

 

Da mesma forma, o guia "Manejo Clínico da Covid-19", publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em maio de 2020, apresenta as seguintes recomendações:

Mães não devem ser separadas de seus bebês a menos que a mãe esteja doente demais para cuidar do bebê. Caso a mãe não possa cuidar do bebê, outro cuidador familiar competente deve ser identificado;

Contato pele a pele precoce e ininterrupto entre mães e bebês deve ser facilitado e encorajado o mais cedo possível após o nascimento, aplicando-se as medidas necessárias para prevenção e controle de infecções (PCI). O mesmo se aplica a bebês nascidos pré-termo ou com baixo peso;

Caso o recém-nascido ou bebê esteja doente e necessite cuidados especiais (como unidade neonatal), devem ser feitos arranjos para permitir livre acesso da mãe à unidade, com as medidas de PCI apropriadas (OPAS, 2020, p.45).

 

A partir disso, é fundamental ressaltar que o termo “visita” ser relacionado à mãe e ao pai do bebê é considerado inadequado, tal como a conduta de impedir que, pelo menos um dos genitores permaneça na UTIN durante a internação de seu bebê, mesmo diante de uma pandemia.

Entretanto, pode-se afirmar que, apesar dos direitos assegurados aos pais por órgãos governamentais, inúmeras UTIs Neonatais no Brasil impuseram restrições à presença dos mesmos. Com isso, a fim de manter o vínculo entre os pais e seus bebês, uma das principais estratégias adotadas foi o estabelecimento de comunicação remota. Videochamadas e conversas por áudios de WhatsApp regulares foram organizadas entre os pais e os neonatos, permitindo que os pais e familiares vissem, ouvissem e interagissem com seus bebês mesmo à distância. A tecnologia tornou-se uma aliada vital para mitigar a separação física e fortalecer o vínculo afetivo, proporcionando um meio de conexão emocional essencial para ambas as partes.

Relatos impactantes divulgados em algumas das notícias destacaram a relevância e os benefícios proporcionados pela tecnologia na vida dessas mães:

“Demorei 74 dias pra conhecer meu filho por causa da pandemia. Todo dia, eu tentava botar na cabeça que ele ainda estava na barriga” [...] “Enviava à equipe médica vários áudios para que Bernardo pudesse, com a mediação de telas e aparelhos celulares, começar a reconhecer minha voz. ”[...] “Quando eu estava mais chorosa e ele ouvia minha voz, chorava também. Acho que de alguma forma ele sentia.” Maryane da Rocha, mãe de Bernardo (Jucá, 2020).

“Eu tive muito medo de perder ela, de a família não poder olhar o rostinho, de a avó dela nunca a conhecer [...] Depois de tanto tempo longe, estamos juntos por meio dessa tela. Obrigada a todos por esse presente.” Kelen Nascimento, mãe de Isabela (Lopes, 2020).

Essas declarações sublinham como o uso de ferramentas tecnológicas melhoraram significativamente o cuidado e o acompanhamento neonatal, trazendo conforto e segurança às mães e familiares durante o período de internação de seus recém-nascidos na Pandemia da COVID-19.

Além dos áudios e videochamadas, a comunicação transparente e frequente desempenhou um papel crucial. Os profissionais de saúde se comprometeram a fornecer atualizações diárias sobre o estado de saúde dos recém-nascidos, resultados de exames, medicações diárias e planos de tratamento. Outra estratégia significativa foi a realização de ensaios fotográficos festivos com os bebês, nos quais a equipe enfeitava os recém-nascidos de acordo com o tema da data comemorativa, como Páscoa e Natal, por exemplo, e as fotos eram enviadas às mães acompanhadas de mensagens especiais.

Todas essas práticas ajudaram a reduzir a ansiedade e o estresse dos pais, que enfrentavam a incerteza e o medo intensificados pela pandemia. O suporte emocional também foi reforçado, com psicólogos disponíveis para oferecer assistência contínua aos pais, ajudando-os a lidar com suas preocupações e angústias durante esse período desafiador.

Em suma, a adaptação da UTI Neonatal para ser um ambiente acolhedor, mesmo com as restrições impostas pela pandemia, foi fundamental. A prática do cuidado humanizado ajudou a criar uma atmosfera mais confortável para os bebês e os pais. Essas iniciativas refletiram um compromisso contínuo com os princípios de humanização na saúde, mostrando que, mesmo em tempos de crise, é possível manter um cuidado centrado no paciente e na família.

5 CONCLUSÃO

A pandemia de COVID-19 intensificou os desafios na UTI Neonatal, ressaltando a importância do cuidado humanizado. Apesar das dificuldades, as estratégias adotadas demonstraram que é possível manter um ambiente acolhedor e seguro para os recém-nascidos e suas famílias. A criatividade e resiliência dos profissionais de saúde resultaram na implementação de medidas eficazes para manter o vínculo entre pais e bebês, evidenciando que, mesmo em tempos de crise, os princípios de humanização podem e devem ser preservados e fortalecidos. As lições aprendidas durante esse período devem ser incorporadas nas práticas futuras, garantindo um cuidado neonatal cada vez mais humanizado e adaptável a diferentes circunstâncias, considerando que a adaptação às novas condições exige criatividade, empatia e um compromisso contínuo com a excelência no cuidado.

 

REFERÊNCIAS

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[1] Graduanda em Enfermagem.

[2] Enfermeira. Especialista em Enfermagem Neonatal.

[3] Enfermeira. Doutora em Enfermagem.