competências necessárias no combate à desinformação:

um estudo no contexto da rede social durante a crise sanitária

Joao Pedro da C. Pacheco[1]

Universidade Federal do Espírito Santo

joao.p.pacheco@edu.ufes.br

Meri Nadia Marques Gerlin[2]

Universidade Federal do Espírito Santo

merinadia@hotmail.com

______________________________

Resumo

Coloca-se em análise um conjunto de habilidades, conhecimentos e técnicas necessárias ao desenvolvimento das competências leitora e em informação que permitem a recuperação, compreensão e comunicação da informação (hiper)textual no ciberespaço, conduzindo à apropriação de notícias confiáveis contra a desinformação durante a crise sanitária da COVID-19. O estudo é realizado no campo da Ciência da Informação caracterizado como exploratório e descritivo, ao recorrer à pesquisa bibliográfica e ao processo de observação das atividades da Rede de Estudos das Competências da Universidade Federal do Espírito Santo que reúne, em sua maioria, docentes, bibliotecários e outros membros internos e externos à Universidade. Como resultados desta investigação, consideramos que as abordagens inter e transdisciplinares permitem fluir o diálogo e a articulação com as áreas da Biblioteconomia, Comunicação e Saúde. Identificamos a potencialidade da contribuição das novas tecnologias para o desenvolvimento das competências em leitura e em informação durante e após a pandemia (crise sanitária mundial). Em se tratando das competências estudadas, contemplam as necessidades de informação de comunidades de usuários conectados às redes digitais e sociais em diversos contextos geográficos e temporais. Com a identificação dos saberes e fazeres requeridos para a recuperação da informação confiável e utilização de ferramentas necessárias no combate à desinformação, percebemos que as ações de formação dessas competências devem contemplar conhecimentos e habilidades sobre técnicas direcionadas ao processo de acesso, avaliação crítica e uso ético dos enormes volumes de informação disponibilizados durante a crise sanitária vivida na segunda década do século XXI.

Palavras-chave: Acesso à informação. Competência em informação. Competência leitora. Crise sanitária.  Desinformação.

NECESSARY SKILLS TO FIGHT MISINFORMATION:

A study in the context of the social network during the health crisis

Abstract

A set of skills, knowledge and techniques necessary for the development of reading and information skills that allow the retrieval, understanding and communication of (hyper)textual information in cyberspace are analyzed, leading to the appropriation of reliable news against disinformation during COVID-19 health crisis. The study is carried out in the field of Information Science characterized as exploratory and descriptive, by resorting to bibliographic research and the process of observing the activities of the Network of Studies of Competences of the Federal University of Espírito Santo, which brings together, for the most part, teachers, librarians and other internal and external members of the University. As a result of this investigation, we consider that the inter and transdisciplinary approaches allow the flow of dialogue and articulation with the areas of Librarianship, Communication and Health. We identified the potential contribution of new technologies to the development of reading and information skills during and after the pandemic (global health crisis). In terms of the competences studied, they contemplate the information needs of communities of users connected to digital and social networks in different geographical and temporal contexts. With the identification of the knowledge and actions required for the recovery of reliable information and the use of tools necessary to combat disinformation, we realize that the training actions for these skills must include knowledge and skills on techniques aimed at the process of access, critical evaluation and ethical use. of the enormous volumes of information made available during the health crisis experienced in the second decade of the 21st century.

Keywords: Access to information. Information competence. Reading competence. Health crisis. Misinformation.              

1  INTRODUÇÃO

A Ciência da Informação engloba a pesquisa científica e a prática profissional permitindo estudar os registros das técnicas centradas no acesso dos suportes informacionais e dos bancos de dados sustentados pelas tecnologias de informação e comunicação (novas tecnologias), ao compreender como o armazenamento dos enormes volumes de informações e a expansão dos meios de comunicação de informações a distância contemplam as demandas sociais, de inovação científica e tecnológica na “Era Digital”[3] (LE COADIC, 2004). A práxis (teoria e prática) dessa ciência interdisciplinar que contempla áreas como a Biblioteconomia e a Documentação, compreende três características a saber: interdisciplinaridade, tecnologia da informação e participação efetiva na evolução da sociedade (SARACEVIC, 2009).

Ao contemplar a dimensão social, a Ciência da Informação realiza pesquisas sobre as demandas das competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) responsáveis pela apropriação crítica, pelo uso e pelo compartilhamento da informação recuperada e analisada pelo leitor/sujeito contemporâneo. A competência em informação é uma delas ao direcionar a articulação dos saberes (conhecimentos) e fazeres (habilidades) para o acesso, a avaliação e o uso de diversas modalidades de conteúdos informativos em espaços tempos presenciais e virtuais (híbridos), podendo ser entendida como um conjunto de práticas atitudinais necessárias à obtenção do sucesso de demandas individuais e coletivas constituídas por uma combinação de habilidades cognitivas e sociais (BELLUZZO, 2007; GASQUE, 2013).

A competência leitora é apontada como necessária por reunir habilidades e atitudes destinadas à promoção de aprendizagens por meio do uso de diferentes linguagens e modalidades de leituras (informativas, literária, técnicas, de lazer, dentre outras), solicitando a aquisição de técnicas e estratégias que possibilitem aprendizagens significativas e a aquisição de novas informações relacionadas com o conhecimento prévio que culmina na produção de novos conhecimentos (GERLIN, 2017). Compreende a necessidade, o interesse, o prazer de ler mantendo um relacionamento direto com a competência em informação e, com isso, viabiliza o acesso e o uso de textos multimodais alimentados por diversas linguagens (textual, sonora e imagética) e hipertextos (acesso à informação remissiva acessada por hiperlinks)[4] (GERLIN, 2020). A articulação das competências leitora e em informação proporcionam técnicas necessárias ao processo de acesso e uso ético da informação (Quadro 1).

 

Quadro 1 – Habilidades, técnicas e conhecimentos no âmbito das competências leitora e em informação.

 

COMPETÊNCIAS LEITORA E EM INFORMAÇÃO

Acesso e avaliação da informação: gestão de habilidades e estratégias para a compreensão do texto.

 

-Acesso às novas tecnologias de escrita, informação e comunicação;

-Saber localizar e avaliar informações confiáveis durante a pandemia;

-Domínio das ferramentas de busca e recuperação da informação;

-Conhecimento sobre o manuseio de equipamentos eletrônicos ou não;

-Consulta aos catálogos manuais e digitais, domínio de acesso às redes digitais e aos acervos presenciais;

Uso de diferentes modalidades de leitura: interpretação e compreensão do (hiper)texto da página do livro e à tela do computador.

-Autonomia no processo de busca que acarreta no uso efetivo da informação (leitura);

-Aplicação da informação recuperada perante ao contexto social (uso efetivo) da crise sanitária;

-Aplicação de recursos de leituras digitais e eletrônicos;

Aprendizado colaborativo: produção de conhecimento de relevância social durante a aplicação (apropriação).

-Saber aplicar no contexto social a informação recuperada;

-Apropriação das novas tecnologias que conduzem ao exercício de práticas de leitura e de escrita crítica;

-Leitura na tela e no papel que conduz a uma produção de conhecimentos;

-Participação/interação e comunicação efetiva num ambiente híbrido (presencial e virtual);

Leitura em diferentes suportes: informação textual e imagética (multimodal).

 

-Domínio do acesso às informações em Wikis; Chats; Fóruns;

-Compartilhamentos de textos em blogs; Web sites; Redes sociais;

-Domínio da leitura da informação em bancos de dados de bibliotecas virtuais; banco de Imagens; rede de compartilhamento de imagens, etc.

Construção de projetos de leitura com diferentes finalidades: perpassando a necessidade, o interesse e o prazer.

-Desenvolvimento das competências de saber localizar, avaliar e utilizar informações agregando valor no processo de elaboração de projetos;

-Capacidade de resolver problemas perante a proposta de novas arquiteturas;

Uso ético da informação: materialização de projetos comprometidos com a competência em informação/leitora.

 

-Capacitação no âmbito da competência leitora e competência em informação que possam gerar ações de combate à desinformação no meio social;

-Orientação sobre o uso ético e legal dos recursos informacionais respeitando as normas de citação e os direitos autorais segundo orientam as leis.

Fonte: Adaptado de Gerlin (2017; 2020).

 

Perante a apresentação no Quadro 1 do conjunto de habilidades a técnicas relacionadas com as competências leitora e em informação, percebemos que são passíveis de serem apropriadas pelo profissional e usuário da informação para que proporcione autonomia e discernimento sobre a veracidade das informações e notícias durante a pandemia, ao contribuir para que a sociedade esteja plenamente consciente de como compreender criticamente os conteúdos compartilhados no ambiente digital. Logo, nos permitimos questionar como os componentes das competências leitora e em informação (conhecimentos, habilidades e atitudes que compreendem a utilização de técnicas) podem na rede social se constituir como estratégias de combate à notícia falsa, manipulação e distorção da informação durante a crise sanitária mundial (pandemia) provocada pela COVID-19.

 

2  EMBASAMENTO TEÓRICO

Para alcançar as competências requeridas na era digital os sujeitos deste século precisam adotar estratégias efetivas de apropriação e uso crítico de novas informações, sem desconsiderar o conhecimento prévio necessário ao processo de produção de novos (re)conhecimentos. O espaço virtual também denominado como ciberespaço, facilita a conexão acadêmica, científica, profissional, cultural e social em um ambiente novo em termos de buscas de uma variedade de formatos (hiper)textuais (textuais, sonoros, imagéticos, etc.), ampliando as possibilidades de aprendizagens com a utilização das ferramentas de conexão, comunicação e recuperação de informações, resultando na ampliação da comunicação coletiva, na produção e no compartilhamento de conhecimento/informação de forma desacelerada (LÉVY, 2010).

A potencialização dos processos de compartilhamento e apropriação crítica da informação podem diminuir a desigualdade social no campo da informação, economia, saúde, educação, dentre outros. Entretanto, a ausência de infraestrutura tecnológica dificulta a formação de leitores críticos e capazes de acessar, compreender e usar a informação. Essa nova era requer a criação de políticas inclusivas e ações de formação das competências para minimizar as contradições que atravessam a organização desigual e complexa do conhecimento (VARELA; BARBOSA; FARIAS, 2017).

Com a popularização das plataformas digitais, cabe ao bibliotecário exercer suas habilidades tradicionais como o atendimento por meio do serviço de referência, da seleção, da guarda e organização de livros do acervo, bem como precisa desenvolver competência, ou seja, habilidades, conhecimentos e atitudes para lidar com a diferente dinâmica de filtragem de informação via (hiper)textos e encontrar formas de torná-la acessível para seus usuários. É importante frisar que tal dinamicidade proporcionada pelo mundo digital ainda é acompanhada de certas dificuldades que sozinho o usuário não consegue dar conta. Tais dificuldades podem ser exemplificadas como: falta da habilidade em lidar com a funcionalidade dos (hiper)textos e as tags inseridas no mesmo, não saber como filtrar a gama de informações que recebe devido a rapidez da internet e dos aparelhos eletrônicos, ausência do hábito de conferir a veracidade e de onde tais informações são retiradas, e até mesmo o consumo de apenas vídeos e imagens pela sua facilidade de absorção (MARCONDES FILHO, 2019). 

Dessa forma, Ripoll e Canto (2019) nos permitem entender que mundo digital é tão vasto e repleto de camadas que afeta a vida da sociedade, perpassando a tela dos equipamentos eletrônicos como o computador e o smartphone conectados às redes digitais. Como o bibliotecário é responsável por organizar e disseminar informação, buscamos compreender como o mesmo pode auxiliar aos usuários conectados às redes sociais por meios seguros para que ele não consuma desinformação ocasionada pela distorção, manipulação e propagação das notícias falsas e replicá-las de forma imprudente em suas redes sociais especialmente durante a pandemia (RIPOLL; MATOS, 2017).

Diante da replicação dos conceitos “desinformação” e “notícias falsas” conhecida pela expressão em língua inglesa “Fake News”, refletimos acerca das definições numa sociedade atualmente conectada por redes digitais e sociais. Com base nos estudos da Comunicação consideramos que a manipulação e distorção que caracterizam a desinformação são complexas que a mentira grosseira, em alguns momentos, mais fáceis de identificar, desse modo o fenômeno da Fake News, fortalecido pela Web e pela Internet, intensifica a dificuldade do acesso à informação e motiva investigações no campo da Ciência da Informação (BRISOLA; BEZERRA, 2018; SERRANO, 2010).

O conceito da desinformação extrapola a definição da notícia falsa (Fake News), já que “A investigação sobre desinformação começa quase sempre por assinalar [...] Relatos falsos, rumores, distorção, omissão de factos relevantes para a compreensão do acontecimento [...]” (BAPTISTA, 2019, p. 56-57). Ao incorrer na utilização maliciosa de informações fragmentadas e manipuladas para uso político, ideológico, religioso, educativo, o usuário/leitor malicioso ou sem criticidade passa a atingir aos grupos sociais que não costumam avaliar a informação recebida antes de (re)compartilhar (BRISOLA; BEZERRA, 2018).

Durante o período da pandemia os usuários passaram mais tempo nas plataformas de comunicação passíveis de receber um fluxo massivo de informações compartilhadas sem as devidas fontes e de forma negligente do ponto de vista da ética no campo da informação, já que boa parte dessas informações falsas são postadas de forma proposital com fins políticos e com o objetivo de manter as massas alienadas. No início da crise sanitária, em meados do ano de 2020, muitos estados enfrentaram o problema da escassez de informação, o que acabou por deixar o indivíduo em uma “cortina de fumaça”.

Essa afirmação pode ser constatada a partir da leitura da vida do usuário durante a pandemia. Notícias sobre remédios ineficazes, soluções caseiras para a doença, pessoas sem formação na área científica ditando o que é bom ou não é, e até mesmo órgãos públicos divulgando informações que deveriam ser de cunho científico e não sustentados na politicagem. Sem que os usuários e os profissionais da informação se empenhem em entender como se dá essa nova dinâmica informacional em rede e passem a inserir em sua abordagem, sendo ela dentro ou fora de seu ambiente de trabalho, residências e espaços comunitários, certamente entraremos em uma era onde tudo é questionado, porém não de forma coerente e sim pelo senso comum.

Diante de tal obscuridade informacional, a desinformação e notícias falsas conseguiram um terreno fértil para se propagar e, inspirados pelo levantamento bibliográfico, atestamos a pertinência do desenvolvimento de estudos para analisar a rotina de compartilhamento de informações, o combate contra a desinformação e a disseminação de fake news através das postagens feitas nas redes sociais do Instagram, Facebook, WhatsApp e Twitter no período da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

 

Os indivíduos tendem a não questionar a credibilidade da informação, a menos que ela viole seus preconceitos ou que sejam incentivados a fazê-lo. Caso contrário, eles podem aceitar informações sem crítica [...]. As pessoas também tendem a alinhar suas crenças com os valores de sua comunidade (LAZER et al., 2018, p. 3).

 

 

Oliveira, Souza e Abreu (2020) inspiram a colocação de que sem conscientização social, políticas públicas e competência em informação, o indivíduo inserido na sociedade vai continuar a sofrer com o advento da desinformação e, assim sendo, é importante que ele aprenda com o que aconteceu durante a pandemia para que esteja mais consciente caso outra catástrofe de tal magnitude venha a acontecer novamente. Com “[...] o crescimento da doença [ocasionada pela Covid-19], há também a propagação da desinformação e das fake news, abrindo espaço para várias informações de cunho não científico, tais como fabricação de álcool em casa e receitas caseiras de medicamentos” ou sem comprovação científica, apontando que “Nesse cenário em que a informação pode salvar vidas, evidencia-se a necessidade de que estruturas sociais desempenhem a sua contribuição na disseminação de informações baseadas em dados reais e concretos [...]” (SALA; LOPES; SANCHES; BRITO, 2020).

 

Já não somos mais destinatários e consumidores passivos de informação, mas sim remetentes e produtores ativos. Não nos contentamos mais em consumir informações passivas, e sim queremos produzi-las e comunicá-las ativamente nós mesmos [...]. Este duplo papel aumenta enormemente a quantidade de informação. A mídia digital não oferece apenas uma janela para o agir passivo, mas também portas através das quais passamos informações produzidas por nós mesmos (HAN, 2018, p. 36).

 

 

Mesmo que a Era da Informação tenha trazido benefícios para a sociedade que passa a conviver com o meio digital desde o final do século XX, ainda assim é necessário que os usuários usem esse espaço de cultura, educação e produção de conhecimento com sabedoria. Além do exposto, o bibliotecário em conjunto com outros profissionais deve trabalhar para que as práticas de recuperação e avaliação crítica da informação multimodal e (hiper)textual sejam uma rotina na vida do sujeito contemporâneo. Com a evolução constante do ambiente digital, o termo “desinformação” passou a fazer parte do cotidiano dos usuários e bibliotecários.

O uso “descontrolado” das redes sociais não é algo que deva causar espanto. Por incrível que pareça esse crescimento exponencial de usuários online são realidade desde a chegada da internet banda larga no Brasil. Com o agravamento da pandemia e a necessidade de isolamento dos usuários dentro de suas casas, isso só acabou por tomar proporções mais escancaradas, porém não diferente do hábito que já tínhamos quando as rotinas mudaram no ano de 2020. Mas a forma que podemos lidar com essa falta de instrução e entender como auxiliar aos sujeitos conectados em rede se faz somente através de um meio que é o da educação.

O desenvolvimento das competências leitora e em informação tem como responsabilidade tornar usuários e leitores competentes para que consigam selecionar de forma autônoma as informações relevantes e descartar tudo aquilo que acrescenta ao seu conhecimento. Não podemos pensar que o conhecimento começa e termina nos suportes de informação tradicionais (livros, revistas, jornais, vídeos, etc.), pois agora a informação multimodal e (hiper)textual pode ser recuperada remissivamente por meio de hiperlinks e linguagens interativas.

 

3 METODOLOGIA

Ao se enquadrar como um subprojeto da pesquisa “A (Des)informação nas redes sociais em época de pandemia” (registrado no sistema na PRPPG UFES), nos dedicamos a realização de uma pesquisa qualitativa apoiada pelo Programa Institucional de Iniciação Científica (PIIC) UFES e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), recorrendo à pesquisa bibliográfica e à observação da Rede de Estudos das Competências (REC) da UFES ligada ao Grupo de Pesquisa Competência leitora e Competência em Informação certificado pelo CNPq e registrada pelo projeto extensionista Informa-Ação e Cultura (registrado no sistema da PROEX UFES).

Este estudo, portanto, é realizado no campo da Ciência da Informação e caracterizado como exploratório e descritivo, tendo como meta alcançar a familiarização e explicitação da questão de investigação, assim como o estabelecimento de relações entre diversas variáveis propostas pelo objetivo geral da pesquisa (GIL, 2009). Quanto aos procedimentos, recorremos ao desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica e de observação de campo no contexto da REC que reúne docentes, discentes, bibliotecários que atuam em escolas, universidades, bibliotecas públicas, dentre outros profissionais da informação, educação e comunicação que fazem parte da comunidade interna e externa à UFES.

O processo investigativo foi dividido em 6 (seis) fases, a saber: coleta dos dados por meio da pesquisa bibliográfica com o auxílio do levantamento nas bases de dados BRAPCI, OasisBr e Google Scholar (i); categorização e análise dos dados da pesquisa realizada em livros, artigos científicos e outros suportes de informação (ii); estudo da aplicação de ferramentas tecnológicas (checadores de fatos) para contribuir com a formação do grupo de estudos (iii); aplicação de um questionário estruturado como forma de dialogar com os bibliotecários e outros profissionais (iv); categorização e análise das perguntas dos questionários com base nos objetivos deste subprojeto (v) e, por fim, esquematização dos seus resultados para apresentação dos resultados finais.

Com a meta de contribuir com a fase da pesquisa bibliográfica foi feito um levantamento de dados com os termos: “Fake news”, “Desinformação” e “Covid-19” em três bases de dados. O processo de busca e recuperação realizado nas bases de dados foi dividido em três momentos: Levantamento de artigos com os termos principais: “Fake news”, “Desinformação” e “Covid-19” (1º); Refinamento da pesquisa dos temas relacionados com a pandemia (2º) e seleção dos artigos com base nos objetivos da pesquisa (3º).  Durante o primeiro momento, procedeu-se ao levantamento de artigos na Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI)[5]. Nessa plataforma foram usados três termos no processo de busca: “Fake news”, “Desinformação” e “Covid-19”, que retornou um total de 11 (onze) artigos com a combinação dos termos “Desinformação” e “Covid-19”. Vale ressaltar que o termo “Fake news” é ligado ao termo “Desinformação” conforme já citado, então, ao colocá-los juntamente com os outros gerava redundância e o retorno dos mesmos artigos.

No segundo momento foi consultada a plataforma Oasis BR que é um portal de pesquisa científica ligada ao Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)[6]. Nessa base os termos “Desinformação” e “Covid-19" ofereceram um retorno de 12 (doze) artigos científicos e pelo mesmo motivo citado acima, o termo “Fake news” acabava por gerar redundância. No terceiro momento de busca foi utilizado o Google Scholar que é uma ferramenta de pesquisa que tem a funcionalidade de organizar as produções relacionadas a artigos científicos depositados em várias bases de dados que estão disponíveis via pesquisa Google[7]. Nesta plataforma obteve-se um número mais expressivo de artigos. Usando os termos “Desinformação” e “Covid-19” houve um retorno de 520 (quinhentos e vinte) artigos científicos.

O passo seguinte foi o refinamento com a meta de recuperar artigos que estivessem relacionados com a pandemia e para que houvesse uma abrangência maior ao que se buscava. Na BRAPCI foram selecionados 11 (onze) artigos, na Oasisbr 3 (três) e no Google Scholar 5 (cinco). Depois do refinamento de todos os artigos, o terceiro momento permitiu proceder à seleção de artigos cujo temas estivessem relacionados com a pandemia da Covid-19. Após esse processo 3 (três) artigos da plataforma BRAPCI foram escolhidos e, em seguida, 1 (um) da plataforma Oasisbr e na plataforma Google Scholar 3 (três) foram selecionados. O Quadro 2 descreve de forma resumida como o processo de busca ocorreu nas três bases de dados.

Quadro 2 - Resumo dos procedimentos feitos durante os três momentos da pesquisa realizada nas bases de dados.

1º Processo de busca dos artigos com os termos principais

2º Refinamento da pesquisa com os temas relacionados com a pandemia

3º Seleção dos artigos com base nos objetivos da pesquisa

BRAPCI

11

BRAPCI

11

BRAPCI

3

OASIS

12

OASIS

3

OASIS

1

Google Scholar

520

Google Scholar

5

Google Scholar

3

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

 

Mesmo com um grande volume retornado de artigos a plataforma Google Scholar (520), diferentemente das outras duas plataformas utilizadas, a busca não demonstrou precisão acerca dos termos pesquisados com o auxílio dos operadores booleanos (AND, OR, NOT) para combinação ou exclusão dos temas que não fossem importantes ocasionando redução, ampliação e/ou exclusão dos artigos irrelevantes. Para a seleção dos 7 (sete) artigos levamos em consideração a autoria, o título, as palavras-chave e o ano de publicação. As pesquisas, compreendidas entre os anos de 2017 à 2020, foram selecionadas para realização da análise do conteúdo (Quadro 3).

 

Quadro 3 - Títulos e palavras-chaves das produções científicas selecionadas para a análise do conteúdo.

Autoria

Título

Palavras-chave

Ano

Ripoll e Matos

 

Zumbificação da informação: a desinformação e o caos informacional

Desinformação. Sociedade da Informação. Pós-verdade. Fake News. Disseminação da Informação.

2017

Ripoll e Canto

Fake news e “viralização”: responsabilidade legal na disseminação de desinformação

Fake News. Desinformação. Aspecto Legal. Disseminação de Informação. Sociedade da Informação.

2019

Oliveira, Sousa e Abreu

O Combate à desinformação sobre a pandemia de Covid-19 na Amazônia: o caso do perfil da Sespa (PA) no Instagram

Desinformação. Pandemia de Covid-19. Amazônia.

2020

Sala; Lopes, Sanches e Brito

Bibliotecas universitárias em um cenário de crise mediação da informação por meio das redes sociais durante a pandemia de COVID-19

Biblioteca universitária, Mediação da informação, Competência em informação, Redes sociais, Covid-19.

2020

Recuero e Soares

O Discurso Desinformativo sobre a Cura do COVID-19 no Twitter

Desinformação, Discurso, Twitter, Coronavírus.

2020

Recuero, Soares e Zago

Polarização, Hiperpartidarismo e Câmaras de Eco: Como circula a Desinformação sobre Covid-19 no Twitter

Desinformação, Twitter, Hidroxicloroquina, Links, Câmara de eco.

2020

Recuero, Soares, Volcan e Fagundes

Desinformação sobre o Covid-19 no WhatsApp: a pandemia enquadrada como debate político

Análise de conteúdo, Covid-19, Desinformação, Discurso político, WhatsApp.

2020

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

 

Com a seleção os pesquisadores Leonardo Ripoll (RIPOLL, 2017; RIPOLL; CANTO, 2019) e Raquel Recuero (RECUERO; SOARES, 2020; RECUERO; SOARES; VOLCAN; FAGUNDES; SODRÉ, 2020; RECUERO; SOARES; ZAGO, 2020) foram os que mais focaram suas pesquisas para contribuir com o combate à desinformação durante a pandemia. Com a categorização dos temas esses artigos se tornaram relevantes para desenvolvimento desta investigação no âmbito da Ciência da Informação e Biblioteconomia: desinformação; fake News; pandemia, COVID-19. Nas próximas linhas, segue a análise dos dados do questionário disponibilizado pela REC, que foi construído se baseando nos artigos referidos acima e que posteriormente nos deu uma direção para que assim respondêssemos os objetivos e as questões construídas durante o período desta pesquisa.

 

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base na pesquisa bibliográfica realizada no ano de 2020 observamos a dinâmica da formação da REC da UFES, direcionada, desde o início, ao momento da crise sanitária. As suas ações internas giraram em torno da gestão da rede (apropriação das ferramentas tecnológicas e planejamento das atividades), organização dos momentos de formação (reuniões, palestras e conferências), grupos de estudos (atividade de formação interna da rede) e atividades de (in)formação oferecidas à comunidade interna e externa à Universidade por meio da rede social da atividade de pesquisa e extensão.

Além de uma diversidade de reuniões realizadas pelo grupo de gestão para que a migração das atividades presenciais para remotas tivesse sucesso, ao todo foram realizados 8 (oito) grupos de estudos  e apenas 1 aconteceu presencialmente devido a pandemia, cujos temas estiveram relacionados com a intensificação da desinformação durante a pandemia, a missão do bibliotecário em tempos de desinformação, a competência crítica em informação, a influência das notícias falsas, competências para o uso ético da informação, ética do bibliotecário e Lei dos Direitos Autorais, dentre outros[8]. Os grupos de estudos foram realizados no início dos meses de março a setembro do ano de 2020, tendo, inclusive, em um dos momentos, a condução do bolsista de iniciação científica deste subprojeto para dialogar sobre a desinformação.

Em se tratando das atividades que também foram direcionadas ao público externo, foram realizados 15 eventos destinados à formação das competências durante a crise sanitária mundial. As palestras (no formato de live) intitularam-se “Por detrás dos bastidores com a REC – saberes e fazeres durante a pandemia” ao receber, em sua maioria, palestrantes locais. As conferências (no formato de webinar) foram realizadas de junho a novembro de 2020 e contaram com a participação de pesquisadores e profissionais de diversas instituições brasileiras para debater sobre temas variados ligados ao contexto da competência leitora, competência em informação, desinformação, notícias falsas, novas mídias e tecnologias, relações éticas durante a pandemia e a atuação do profissional da informação, educação e cultura no momento de crise sanitária. Dentre as instituições que participaram dos processos de (in)formação constam: PMC ES; PMVV ES; UFMG; UFES; IBICT; UnB; UFC; UFSC; UNESP; UNIRIO; UFScar; dentre outras.

No ano de 2021 nos dedicamos à análise da pesquisa realizada pela REC que na atualidade tem um contingente de cerca de 50 (cinquenta) pessoas entre participantes e colaboradores, e a quantidade de respostas obtidas foi de 25 (vinte e cinco) participantes (100%). A fim de visualizar o perfil da rede, foi de interesse identificar dados referentes à formação (partindo da escolaridade média até a pós-graduação). Como se pode constatar no gráfico 1, 60% dos participantes da pesquisa são pós-graduados, seguido de 20% profissionais graduados, 12% ainda com a pós graduação em curso e 8% se formando em sua graduação na área da Biblioteconomia.

 

Gráfico 1: Formação profissional dos participantes.

Fontes: Dados da pesquisa (2021).

 

Entre os dados importantes destaca-se a informação sobre o tipo de unidades de informação em que estes profissionais da área da Ciência da Informação atuam (Gráfico 2). Cerca de 40% dos participantes da pesquisa atuam na área escolar, seguidamente de 36% dentro de outros espaços de informação, educação e cultura; 16% estão atuando nas bibliotecas universitárias e os 8% restantes trabalham nas bibliotecas públicas. O interessante a se constatar neste ponto é que as maiores porcentagens estão presentes nas bibliotecas escolares e em espaços de educação e cultura, ou seja, podemos dentro dessa amostra supor que a melhor forma de mudar a perspectiva do usuário é incluí-lo em processos de ensino e aprendizagens para saber como lidar com as novas tecnologias e através de um bom planejamento educacional estruturado nas bases.

 

 

 

Gráfico 2: Unidades de informação de atuação dos profissionais

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

 

Feito o preâmbulo acerca do nível de formação dos profissionais e suas áreas de atuação, o próximo passo foi trabalhar na descrição de quatro respostas, sendo elas: “Como profissional da Informação, você tem noção da influência das redes sociais no dia a dia do usuário?” (i), “Você percebe que a forma de consumo de informação (sobretudo durante o período da pandemia devido à Covid-19) está completamente diferente com o advento das redes sociais?” (ii), “Como bibliotecário(a), você tem noção que mesmo com conhecimento prévio acerca do ambiente informacional, é possível ser afetado por informações e notícias falsas nas redes sociais (WhatsApp, Instagram, Facebook, Youtube) e portais duvidosos?” (iii), “Você possui o hábito de utilizar ferramentas como os checadores de fatos (Agência Lupa, Fake Check, Bot Sentinel e E-Farsas), no seu ambiente de trabalho, para auxiliar seus usuários contra o compartilhamento de notícias e informações duvidosas nas redes sociais?” (iv).

Todas as perguntas além de obter opções como “Sim” e “Não” eram acompanhadas de um espaço para descrever um relato pessoal se assim o participante o desejasse. Por mais que alguns tenham sidos mais objetivos e apenas tenham marcado uma opção ou outra, tal fator não tira a importância das experiências relatadas. Na figura 1 é retratada a resposta de “Como profissional da Informação, você tem noção da influência das redes sociais no dia a dia do usuário?”. Mesmo que a maioria, 96% dos participantes, assinalaram positivamente não se pode desconsiderar a posição da minoria.

 

 

 

 

 

 

Fig. 1: Resposta da primeira pergunta do questionário

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

 

No espaço onde foi dada a opção de justificativa da primeira pergunta (Figura 1) um dos participantes acrescentou que “As redes sociais provocam discussões muito superficiais, a legislação deveria ser atualizada. Os profissionais de Direito recorrem à legislação de fora do país, pois a do Brasil já não atende.” Por mais que esta afirmativa tenha uma certa razão, ainda assim cabe ressaltar que no Brasil, leis de combate à desinformação e crimes virtuais já foram e estão sendo desenvolvidas. A principal lei que assegura a integridade do usuário e das informações é a lei do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) que tem como um dos objetivos enquadrar os provedores da internet quando conteúdos que são considerados prejudiciais nos trâmites da lei são colocados em rede (RIPOLL; CANTO, 2019).

Dando prosseguimento, na figura 2, a seguinte pergunta é colocada em análise: “Você percebe que a forma de consumo de informação (sobretudo durante o período da pandemia devido à Covid-19) está completamente diferente com o advento das redes sociais?”. A maioria, 96% dos que participaram, assinalaram “Sim” e 4% assinalou a opção “Devemos dividir o Brasil em duas sociedades: as que possuem acesso e as que não.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig. 2: Resposta da segunda pergunta do questionário.

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

 

Na seção das justificativas, quatro respostas foram dadas e duas valem ser destacadas, sendo elas: 1) Com a pandemia foi descoberto que as famílias não possuem recursos para o acesso à informação. As famílias precisam muito mais de recursos impressos, porque não possuem ferramentas eletrônicas e nem internet para fazer as atividades (por exemplo). Agora ficou visível a desigualdade social, os que têm e os que não tem [acesso às tecnologias]. 2) Sim, pois com a maior usabilidade dos aparatos tecnológicos os usuários passaram a consumir mais informações via redes sociais e portais de notícia via internet.

Tais afirmativas, por mais que demonstrem uma certa discordância ainda assim se complementam. Mesmo que parte dos usuários brasileiros tenham mais “dificuldades” de acesso aos aparatos tecnológicos devido sua renda e a desigualdade social, de acordo com o relatório de consumo de notícias da Reuters Institute (NEWMAN; FLETCHER; SCHULZ; ANDI; NIELSEN, 2020) (Figura 3), cerca de 83% dos usuários brasileiros utilizam o WhatsApp, ou seja, esses usuários têm um aparelho smartphone.

 

Fig.3 - Frequência de uso das redes sociais

Fonte: Reuters Institute (NEWMAN; FLETCHER; SCHULZ; ANDI; NIELSEN, 2020).

 

Como os usuários passaram a consumir as notícias e conversar sobre todos os temas atuais possíveis da atualidade através de seus smartphones, as chances de receberem e repassarem notícias de cunho duvidoso aumentaram de forma considerável, tornando-se necessário que os profissionais da área da Ciência da Informação e da Biblioteconomia estejam preparados para utilizar ferramentas que auxiliem os usuários a saber quais informações podem ser positivas ou nocivas a depender da situação.

A figura 4 retrata as respostas sobre a seguinte pergunta: “Como bibliotecário(a), você tem noção que mesmo com conhecimento prévio acerca do ambiente informacional, é possível ser afetado por informações e notícias falsas nas redes sociais (WhatsApp, Instagram, Facebook, Youtube) e portais duvidosos?” e 100% assinalaram que “Sim” demonstrando que todos os participantes concordam que é possível ser afetado por fake news nas redes sociais.

 

Fig. 4: Resposta da Terceira pergunta do questionário.

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

 

Na caixa onde se pôde relatar casos pessoais, registram-se onze relatos e dentre eles obtivemos a resposta: “Participo de grupos apenas com profissionais da informação, bibliotecários, professores etc., vira e mexe tem profissional que encaminha desinformação para o grupo, ou seja, não checam e encaminham sem os devidos cuidados que um profissional que trabalha com a informação deveria ter. Não conferem e apenas encaminham, lembrando, que por sermos bibliotecários muita gente acredita fielmente no que estamos postando, logo isso, traz uma carga de responsabilidade muito grande para nós ao encaminhar determinados tipos de informação.” Tal resposta reflete com maestria o ponto ao qual se propõe a pergunta posta, ou seja, mesmo que os bibliotecários tenham as ferramentas e o conhecimento para lidar com a informação, ainda sim ele não escapa de falhar e acreditar em notícias sem ao menos ter um tempo para conferir sua veracidade.

 Como habitamos em um espaço onde se preza mais pela rapidez do que pela qualidade, cabe aos profissionais da área da Ciência da Informação promover uma determinada pausa, reflexão, constatação e finalmente o compartilhamento para que assim o usuário receba e posteriormente repasse algo verídico e de qualidade para seus colegas no ambiente virtual.

Na figura 5, está retratada a última pergunta do questionário sendo ela: “Você possui o hábito de utilizar ferramentas como os checadores de fatos (Agência Lupa, Fake Check, Bot Sentinel e E-Farsas), no seu ambiente de trabalho, para auxiliar seus usuários contra o compartilhamento de notícias e informações duvidosas nas redes sociais?”; nos dados é demonstrado que 60% dos participantes assinalaram a alternativa “Sim” apontando que a maioria conhece as ferramentas de combate as fakes news. 32% assinalou que “Não” e 8% respondeu que “Não e nem conheço as ferramentas citadas”.

 

Fig. 5 - Resposta da quarta pergunta do questionário.

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

 

Na caixa onde é possível relatar uma experiência sobre a pergunta, uma delas nos chamou a atenção por constatar algo importante: “Sim, sempre. Isso tem que ser bastante difundido e divulgado. Na escola foi muito falado e divulgado. Deveriam criar uma disciplina que ensinasse a consumir, produzir informação.” O apontamento feito destaca que deveria existir uma disciplina que ensinasse a consumir e produzir informação. Como o ambiente informacional está em constante evolução e se tornou um dos principais canais de consumo e fluxo de informação (sobretudo durante o período da pandemia), é mais do que correto que dentro dos futuros planos de ação dentro das unidades de informação, sendo elas da área da educação ou universitárias, abordassem com mais afinco essa nova dinâmica de consumo de informações para que assim o usuário possa melhor se portar no ambiente digital.

Mesmo que um pouco mais da maioria dos profissionais (60%) que participaram desta pesquisa tenham conhecimento das ferramentas de combate à desinformação que é alimentada pelas notícias falsas (fake news), ainda assim os outros 40% precisa minimamente conhecer e usar com maior frequência tais ferramentas para que assim uma maior parcelas dos usuários que os profissionais atendem tenham formas de saber como lidar com a enxurrada de informações de cunho duvidoso que os mesmos recebem em seus computadores e smartphones.

Com o resultado percebemos que a dinâmica de formação da REC vai ao encontro do nível de conscientização dos participantes sobre a necessidade de desenvolvimento das competências (habilidades, conhecimentos e atitudes) que compreendem práticas necessárias para a utilização de ferramentas tecnológicas para combater a desinformação. Ao colocar em análise os conhecimentos, habilidades e práticas propostas por Gerlin (2017; 2020), no quadro 1 na introdução desta pesquisa, observamos que funcionam como diretrizes para a realização dos grupos de estudos, das ações de formação e, sobretudo, para a efetivação das ações instituintes advindas dos próprios participantes. No Canal da REC no Youtube é possível recuperar várias produções postadas pelos participantes (vídeos, contação de histórias, poesias, etc.), assim como também podemos citar a elaboração de uma oficina sobre a utilização das ferramentas de checadores de fatos prevista para acontecer no segundo período do ano de 2021.

Com isso, percebemos a potencialidade da contribuição das novas tecnologias para o desenvolvimento das competências leitora e em informação requeridas durante e após a crise sanitária. A análise prática da aplicação da usabilidade dessas ferramentas tecnológicas foi identificada durante a pesquisa bibliográfica e por meio da coleta dos dados dos questionários, contudo terá continuidade com produtos e serviços disponibilizados e com as possíveis parcerias que pretendem assegurar a continuidade das ações no campo das competências que ainda serão ocasionadas pelas contribuições da rede em questão.

 

6 CONCLUSÕES

Como resultados desta investigação, consideramos que as abordagens inter e transdisciplinares permitiram um diálogo e uma articulação mais direta com as áreas da Biblioteconomia, Comunicação, Saúde e Tecnologia e outras áreas de conhecimento que não são consideradas como científicas pautadas na prática profissional.

Identificamos a potencialidade da contribuição das novas tecnologias para o desenvolvimento das competências em leitura e em informação durante e após a crise sanitária mundial. Em se tratando das habilidades e práticas das competências estudadas, contemplam as necessidades de informação de comunidades de usuários conectados em redes digitais e sociais em diversos contextos geográficos e temporais.

Com a identificação dos saberes e fazeres requeridos para a recuperação da informação confiável e utilização de ferramentas necessárias no combate à desinformação, percebemos que as ações de formação dessas competências devam contemplar conhecimentos e habilidades sobre técnicas direcionadas ao processo de acesso e recuperação, avaliação crítica e uso ético dos enormes volumes de informação disponibilizados durante a crise sanitária vivida na segunda década do século XXI.

É neste sentido que o grupo de pesquisa da REC foi crucial tanto para a coleta de dados como para a análise do cenário mundial, mesmo que mínima, de como é possível em conjunto com outros colegas, debater e discutir novas ideias que acrescentem tanto no desenvolvimento do usuário em rede como no do profissional da informação. Um exemplo que pode ser dado, são os eventos transmitidos pelo canal do Youtube e encontros de grupos de estudo a fim de trocar conhecimento e fortalecer o ambiente informacional e científico. 

Por fim, torna-se relevante destacar a importância da interdisciplinaridade, já que toda as áreas produzem informação, é de grande importância que áreas como o Jornalismo, Direito, Medicina, Arquivologia, Biblioteconomia e outras que trabalhem em conjunto para construir um espaço de conhecimento livre de pensamentos superficiais e baseados na razão e não na emoção.

 

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[1] Estudante finalista do Curso de Biblioteconomia e ex-bolsista de Iniciação Científica do PIIC no sétimo período e atualmente, pesquisador da Rede Brasil recebendo bolsa pela Finatec.

[2] Doutora em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UnB), mestre em Educação e bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professora Adjunta do Departamento de Biblioteconomia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) da UFES. Líder do Grupo de Pesquisa "Competência leitora e competência em informação: saberes e fazeres transdisciplinares no campo da Ciência da Informação" certificado pelo CNPq.

[3]ssim caracterizada devido a intensificação do uso das novas tecnologias, recebendo também a denominação de “Era da Informação”.

[4] Utilizamos o termo (hiper)texto para nos referir aos textos multimodais e hipertextuais acessados no ciberespaço (espaço virtual) fortalecido pelas tecnologias de informação e comunicação (GERLIN, 2020; LÉVY, 2010).

[5] https://brapci.inf.br/

[6] https://oasisbr.ibict.br/vufind/

[7] https://scholar.google.com.br/

[8] https://projetoinformaacaoecultura.blogspot.com/2020/